Pedido


escraviza meu sexo
deixando-o
em carne viva
suga meus seios
com tua boca
carnuda e faminta
torna-me eterna
bandida vadia
presa as tuas loucas
e cruéis fantasias
numa dança
ritmada sem hora
pra acabar
                                                          Celamar Maione

Eu e o Outro

















Tira a roupa, deixa ver o teu corpo.
Deixa ver a cicatriz na virilha.
Deixa que eu explore teu corpo vivo.
Deixa que eu te faça tudo,
e do teu corpo irá brotar a canção, o hino 
ou a ópera- ou mesmo, o tango.
Deixa que te toque, que te veja.
Deixa que te xingue,  e que desse monólogo presente 
surjam juízos.
Deixa que te olhe. 
Mostra tudo, sem ambiguidade.
Deixa que tudo seja descoberto.
Deixa que te chame,
deixa que todos ouçam.
Deixa que te abandonem...

Põe a roupa agora sobre o corpo vivo e limpo.
-Sente a emoção da cicatriz saliente. 
-Cura-a !
Raciocina sobre os músculos e os instintos.
Canta a canção tua.
Mostra a parte doída.
Responde a tudo, 
abandona a carapaça.
Veste o que te dou.  
Rasga o que te incomoda.
Fura o que te esconde.
Escandaliza a tua vergonha. 
Pisa tua moral.
Desmoraliza tua verdade.
Chora da alegria, não importa a reação.
Pausa na tristeza; 
faze dela catalizador para o conhecimento.

Ama.
Beija.
Morde.
Tudo se dirige ao espírito.
O corpo é parte da alegria.

O corpo morre,antes de tudo...








Texto: Neusa Fiesta
Imagem by_jesmondcat

Anjo indecente


a minha paixão
é um anjo indecente
de cabelos negros
asas quebradas
não gosta de poesia
adora o perigo
a minha paixão
é um anjo sádico
gosta de  me maltratar
beijando-me com
arte bandida
boca carnuda mais linda
causando sofreguidão
embaraça embaça
numa intensa fissura
melódica de corpos
encharcados
molhados gozados
extasiados pela troca
de fluidos corporais
e segredos eróticos
a minha paixão é
um anjo de asas
de cera
deixa a alma
em carne viva                                               
exposta transposta
entregue a um delírio
ardente
inconsequente
inflama a fleuma
marca a  pele
despe a alma
invade atormenta
a minha paixão
é um anjo
de asas de seda 
faz cócegas
no meu umbigo
depois sai
de fininho
e só volta
quando quer

                                                        Celamar Maione


Translado

Vaguei pela vida
joguei-me na lama
passei duras penas
no abismo da cama

E agora perdida
qual cadela sem guia
aguardo assustada
minha maior transladada

Vestida de creme
ungida de luz
não passo de um traste
estranho contraste
que ao inferno conduz

Viajante sem leme
poluída,  alienada
como puta de estrada
que explora e espreme
o inferno ao extremo

Escorre-se o tempo
d' alma encardida
extingue-se o lume
do corpo, o perfume
esvai-se no céu

E eu vago ao léu...



Texto: Neusa Fiesta
Imagem: Gravura de Eduardo Lima

Me Entrego a tua Magia



Teu corpo, minha intenção
Meus dentes, cravados em teu coração
Meu amor massageado em tua mão
Teu corpo serrilhados na afiada emoção
Lucidez? Pra que? Não quero não!
Bom demais nesse delírio
No real da tua fantasia.
Sem tortura ou martírio
Me entrego a tua magia

Língua Ardente

Sinto em meu corpo
sua língua.
Que me arde
Como se fosse
um chicote
de
fogo.

E mesmo que
eu não queira
me induz
a jogar
o seu
jogo.

Me entorpece
os sentidos,
abafa-me
os gemidos
até provocar
o meu
gozo.

Que poder
é esse?
Que sedução
devassa,
é essa
que sinto
sempre
que você
me abraça?

Só de lhe ver
me arrepia
a pele, em
choques
térmicos.
E me rendo
pacífico
aos seus
desejos
hipotéticos.

Me excita e
submete
a sua ousadia.
Mas sempre
mais e mais,
como num
crescendo,
embarco
na nossa
fantasia.

E quando
entregue
aos nossos
devaneios
sentindo
em meu
corpo
os seus
meneios,
nada mais
importa.

Abrimos do desejo
as portas,
simplesmente
porque
você é
minha lua
e eu...
seu sol...


Aprendiz de Você



Cavalgo
Pelas planícies
Livre,
Sedento...
Louco...
Selvagem
Como fera...
Indomável...
No teu cabresto...
dobrado
Vencido...
Pleno...
Sem me acalmar...
Pouco a pouco...
Sou teu aprendiz
E cairei feliz!
Com você não estou perdido
Não sou mocinho e nem bandido
Sou teu potro, puro sangue atrevido!

Instinto



quero instinto
veias pulsantes
perder os sentidos
batom borrado
peles lanhadas
corpos  traçados
no espaço
desatinos
embaraços
pernas tremidas
ardidas ungidas
quero a sedução
o prazer
fazer arte
poesia
alma gemida
estremecida
contorcida
ao contato da
carne tua
que me
enlouquece
quando se
despe
para me
aquecer
e me deixar
esfolada
gozada
amada

                                   Celamar Maione


Você


Olhei teus olhos fechados,
na luz do amanhecer.
Olhei teu corpo amado,
até o amanhã nascer.

Quando olho o teu corpo
com meus olhos de desejo,
nos teus olhos de desejo
é o meu corpo que vejo.

Quando olho em teus olhos
e vejo o teu olhar de desejo,
meu corpo todo se treme
e espera por teu beijo.

Quando olho o teu corpo,
vejo e sinto teu corpo tremer,
o meu corpo é só desejo,
é o amor de te querer.

Quando amo teu corpo
e me vejo inteiro no teu olhar,
me sinto ser desejado,
no teu jeito de se fazer amar.

Quando no momento do amor,
eu fecho o teu olhar,
me sinto um homem completo.
Te sinto me completar.

Teus olhos por hora fechados,
teu peito se põe a gemer,
meus olhos por hora apertados,
meu corpo todo a tremer.

Teus olhos então se abrem,
com olhar de felicidade.
teu olhar então me olha,
com olhar de cumplicidade

Olhei teus olhos fechados
na luz do amanhecer.
Olhei teu corpo amado.
Me senti renascer.

Cheiro de pecado


Teu corpo moreno
escorregando no meu
sedento de tesão

teu corpo suado
tesão e pecado
juntos 

Teus olhos 
tua boca
teu olfato

cheirando meu corpo
lambendo meu gosto
vendo meus gestos

estremecidos os corpos
num gozo perfeito

olhos fechados
bocas sedentas
olfatos apurados...

Loba


Toda fêmea tem uma loba na alma disfarçada num corpo de mulher,
que sedenta deixa o desassossego reinar em delírios perpétuos.
Não consegue entender o amor que existe em seu mar,
onde correntezas da maré trazem, nas ondas,
paixões que desenham imagens na areia de sua praia,
…procurando o amor.
Semeia devaneios maiores no silêncio da noite,
deleitando-se nos sons do mar,
nas emoções na espuma que beija a areia,
desnudando a mulher na sombra da lua…
convidando ao amor… antes mesmo de este chegar.
O luar lhe desafia, com seu olhar, deixando a loba livre para amar,
levando-lhe à loucura infinda. E a lua cúmplice faz a loba surgir…
livre… bela… percorrendo a praia da mulher,
farejando seu amante, vivendo por quem a quer plena.
A loba domina a mulher, desenhando na paisagem em sua praia
de prazeres…uivando seu desejo… reinando soberana,
acolhendo o amante no leito do amor.
Mas mesmo assim o olhar da mulher vislumbra o horizonte.
E loba reina plena, até os primeiros raios do alvorecer,
retornando ao repouso na alma da mulher,
para deixá-la lutar por sua prole… sendo a fortaleza e o abrigo,
a sobrevivência no cotidiano da vida, uma eterna combatente!
Por isso friso que o mundo não é maior que o olhar de uma mulher.
Seus olhos vislumbram a esperança do pão… a sabedoria do repartir…
a dor social… a recusa à dignidade….
Por isso a mulher necessita da loba que habita sua alma…
para não deixá-la esquecer que, além de guerreira, é também fêmea!

Luz

Se mantenha firme na jornada... mesmo que não veja luz no fim do túnel, continue. Quem sabe você não é a luz?
Pra todos os efeitos, eu carrego uma lanterna a pilhas, seguro morreu de velho!

Loba



Então venha Loba
nua sedenta
crua e pecadora

Vamos transpirar
nossos desejos

Plantar-me em teu fruto
é o mesmo que
plantá-lo em solo fértil

Fragmentos


Ainda tenho
pedaços
da tua pele
no meu
corpo
que geme
e implora
alucinado
pelo veneno
que mata-me
de prazer
sangro
ferida
de tanto
te querer
...............................

Vou cravar
meu nome
no teu braço
pra você
não me esquecer
deixar meu cheiro
no teu peito
pra você
enlouquecer
sarrar no teu
corpo molhado
pra te dar prazer
e sair bailando
na ponta dos pés
pra você adormecer
...............................

Anoitece
chega a lua..
e com ela
as lembranças
tuas
...................................
                                 Celamar Maione

Jeans




Com sede e evidente desejo
Teu jeans rasgado é jogado
Assim como tua lucidez.
Mãos ágeis transpõem
Todos os limites da pele,
Que oscilante e escorregadia
Se entrega as sensações
Entregando teus lúbricos segredos.
Dedos mágicos brincam e
Tatuam insanidades a carne.
Aniquilando tua resistência
Dissipando os teus medos,
Redecorando tua anatomia.
Cumplicidade que nos dá asas...
Etéreas teias, onde você se prende.
Oscilando entre mostrar e esconder,
Pede pra que implore, pois gosta...
Lascivo, o corpo ardente,
Consente a inevitável entrega,
Aprovando e desejando mais e mais...
Ignorando todos e quaisquer argumentos...
Atirando pro espaço a razão!
E jeans rasgado esquecido,
É a única testemunha do nosso tesão,
Ele, solitário e largado no chão!

Caminhando na noite sonho se transforma.